USP aplica simulação computacional para otimizar válvula aórtica de Wheatley
Usando modelagem matemática e simulação computacional, pesquisadores da USP testaram melhorias no desenvolvimento de uma válvula aórtica de Wheatley antes dos protótipos, economizando tempo e recursos.
As etapas de produção de válvulas aórticas artificiais precisam respeitar elevados padrões de rigorosidade e segurança. Uma destas etapas é a demonstração de eficiência funcional por meio de testes experimentais e protótipos. A versão do protótipo que será levada adiante no desenvolvimento é obtida por meio de numerosas séries de trial-and-error. Modelos computacionais suficientemente realistas são capazes de guiar o processo de tomada de decisão a fim de obter os designs melhorados de maneira mais direta. A partir da modelagem por simulação computacional, pesquisadores do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP (ICMC-USP) conseguiram testar melhorias em um projeto da válvula aórtica de Wheatley.
A relevância das válvulas aórticas desse tipo é evidente em um contexto onde as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte e um dos principais fatores de desabilidade motora no mundo [1]. O aumento no número de casos dessas doenças tem sido tão elevado nos países com baixo ou médio nível de desenvolvimento, onde a doenças cardíacas reumáticas são preponderantes, que a Organização Mundial de Saúde elaborou uma Resolução Global sobre Febre Reumática e Doença Cardíaca Reumática (DRR) em 2018 [2, 3]. Em parte desses casos, onde ocorre estenose aórtica ou regurgitação mitral, a substituição cirúrgica da válvula natural por uma prótese, com a válvula de Wheatley, continua a ser o tratamento mais eficaz [4].
Impacto da simulação na eficiência do projeto da válvula de Wheatley
O entendimento fornecido por modelos computacionais bem calibrados é de suma importância para testar hipóteses de projeto e propor melhorias no design da válvula de Wheatley antes mesmo da confecção de protótipos. As pesquisas computacionais do ICMC-USP escolheram o Ansys LS-DYNA como ferramenta para estudar o comportamento da prótese pela capacidade de simular com precisão e eficiência os fenômenos físicos não lineares que são necessários para descrever o comportamento da válvula. Esta atividade diminui tanto o tempo empregado na fase de concepção da prótese e de seus mecanismos de implante, como também os custos envolvidos na produção física de protótipos e testes experimentais, normalmente dispendiosos.
O solver foi aplicado para realizar uma análise multifísica de interação fluido-estrutura. A técnica utilizada é conhecida como ALE (Arbitrary Lagrangian-Eulerian Method), em que a válvula é simulada utilizando malhas lagrangianas, enquanto que o escoamento do fluido é simulado utilizando malhas eulerianas que se atualizam para acomodar o movimento dos folhetos. Técnicas do tipo ALE são bastante desafiadoras porque requerem algoritmos robustos de construção de malha e de mapeamento entre campos. O LS-DYNA possui algoritmos ALE de alto desempenho que conseguem inclusive gerenciar condições de contorno não convencionais.
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Benefícios cruciais do modelo computacional
Segundo o Dr. Hugo Luiz Oliveira, pesquisador do ICMC-USP, “o solver LS-DYNA permitiu reproduzir no computador o comportamento mecânico e fluidodinâmico que a válvula aórtica de Wheatley apresenta em condições controladas de vazão e pressão. Foi possível revelar que a forma em “S” dos folhetos consegue se manter estável em regime diastólico mesmo sob condições de pressão elevada. Além disso, esses folhetos oferecem baixa resistência à passagem de fluxo sanguíneo em regime sistólico. Com relação às arestas verticais dos folhetos, menores alturas implicam em menores áreas de cooptação, o que em situações-limite pode levar à perda de estabilidade valvar em diástole. A modelagem computacional permitiu a identificação dessas condições extremas.”
O modelo computacional produzido tem sido de suma importância para o andamento da pesquisa e desenvolvimento da válvula de Wheatley. Ele permite observar como as tensões internas de equilíbrio variam ao longo do tempo, e se pontos de concentração passam a atuar de maneira repentina. Além disso, é possível analisar o padrão de distribuição de velocidade, pressão e vorticidade do escoamento nas regiões ao entorno da válvula, identificando locais de recirculação e instabilidades. Essas informações servem para guiar ensaios de resiliência e fadiga, a fim de assegurar a alta confiabilidade do produto, bem como sua adequada especificação técnica. Assim, a sociedade poderá ter acesso mais rapidamente a tratamentos mais eficientes.
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[1] Roth GA, Mensah GA, Johnson CO, et al. Global burden of cardiovascular diseases and risk factors, 1990–2019: update from the GBD 2019 study. Journal of the American College of Cardiology 2020; 76(25): 2982–3021.
[2] Mensah GA, Sampson UK, Roth GA, et al. Mortality from cardiovascular diseases in sub-Saharan Africa, 1990–2013: a systematic analysis of data from the Global Burden of Disease Study 2013. Cardiovascular journal of Africa 2015; 26(2 H3Africa Suppl): S6.
[3] White A. WHO Resolution on rheumatic heart disease. European Heart Journal 2018; 39(48): 4233-4233.
[4] Gourlay T, Rozeik M. Improving the hemocompatibility of heart valves. Hemocompatibility of Biomaterials for Clinical Applications 2018: 395–429.
Este projeto foi financiado pela FAPESP (2021/11129-0). As opiniões, hipóteses, conclusões ou recomendações expressas neste material são de responsabilidade do(s) autor(es) e não necessariamente refletem a visão da FAPESP.