Fadiga no domínio da frequência com o nCode
Dois temas de grande importância e interesse aos parceiros da ESSS e, particularmente, aos usuários do software ANSYS estão presentes neste artigo. Como é do conhecimento de alguns, recentemente, o reconhecido código nCode DesignLife fora adquirido pela ANSYS e integrado ao ambiente Workbench 11.0 SP1 (figura 1). Atualmente na sua versão 5.1, o nCode é um código de fadiga avançado, cujas particularidades serão discutidas logo abaixo, estando o mesmo disponível nas plataformas Windows 32bits – XP, Vista – e Windows 64bits – XP 64, Vista 64.
A consequência imediata da integração mencionada é que as propriedades de material e resultados provenientes de análises conduzidas na plataforma Workbench podem ser direta e facilmente acessados e visualizados pelo DesignLife. O ambiente gráfico do nCode (figura 2) é flexível e amigável, constituindo-se basicamente de uma área de trabalho central (onde a sequência de análise será definida), barras de ferramentas e menus na parte superior e laterais.
As caixas (denominadas glyphs) podem ser arrastadas da lateral, posicionadas na área de trabalho (figura 2) e interconectadas (figura 3) de forma a reproduzir uma situação de teste ou ciclo de funcionamento de um componente ou estrutura inteira.
Módulo de Fadiga X nCode
A grande pergunta, que o usuário deve estar se fazendo é sobre as diferenças entre o módulo de fadiga, que acompanha o Workbench desde as suas primeiras versões, e o recentemente incorporado nCode. Não apenas o nCode é bem mais completo, mas também permite ao usuário trabalhar com resultados de outros códigos de elementos finitos, além do ANSYS. Além dos tradicionais “solvers” SN e eN, o nCode traz também o “solver” DANG Van, para o cálculo dos fatores de fadiga em cenários de carregamentos complexos e multiaxiais, típicos da indústria automobilística. Outro destaque importante é a possibilidade de se trabalhar no domínio da frequência (figura 4), em vez do domínio do tempo. A grande maioria das análises estruturais fazem uso de cargas estáticas equivalentes, em parte justificadas pela dificuldade em definir e analisar uma situação dinâmica. Como blocos de carregamentos estáticos são independentes da frequência, a resposta dinâmica, (neste tipo de abordagem) da estrutura (ou componente) é, desta maneira, omitida nos cálculos. A saída seria utilizar a abordagem “transiente”, em lugar da estática, sacrificando custo computacional em favor da precisão numérica, caso o “time step” seja pequeno o suficiente a fim de capturar as frequências dominantes que podem ser altas.
Um método alternativo para cálculo da vida à fadiga é, assim, o domínio da frequência, em vez do domínio do tempo. Neste caso, o carregamento imposto seria uma PSD (Power Spectral Density) e o ponto de partida (análise FEA) muda de estática para harmônica, dentro do ambiente Workbench (figura 5).
Uma vez que o cálculo da fadiga é uma tarefa de pós-processamento, a maior parte do esforço computacional é gasto em resolver o modelo estrutural. No domínio do tempo, o modelo é resolvido a cada passo no tempo (time steps). Desta maneira, N time-steps requerem N+1 análises. No domínio da frequência, uma função de transferência linear é calculada uma vez apenas. Consequentemente, N time-steps levariam apenas um pouco mais de tempo que a única análise de um ponto. A limitação, obviamente, como o leitor já deve ter deduzido, é a exigência de que a estrutura se comporte de maneira linear. Como mostra a figura 4, a análise tem início com a escolha do “Vibration”, ainda na página de projetos do Workbench, tendo como base uma análise harmônica previamente executada, como mostra a figura 6.
Na análise harmônica acima, uma aceleração unitária excita o componente mostrado num intervalo de frequência que vai de 10 a 1000Hz. Para que a dinâmica do sistema seja bem representada, as frequências dos modos de vibrar mais importantes devem estar contidas no intervalo de análise mencionado. O teste de fadiga, neste caso, consistirá numa aceleração randômica na direção vertical. Tendo acionado o “Vibration”, na página de projetos do Workbench, a área de trabalho do nCode é automaticamente preenchida (figura 7) com as caixas de entrada, saída e solução, interligadas de tal forma a reproduzir corretamente o ciclo de testes.
Uma PSD de entrada deve ser associada ao modelo, como mostra a (figura 8). No menu File > Open Data Files (1), abre-se a janela abaixo, onde o usuário deve buscar o arquivo de dados (2) e selecioná-lo na janela de testes disponíveis (3), adicionando-o à lista de arquivos através do botão (4) indicado.
O contador de arquivos da caixa “Multicolumn PSD glyph” muda automaticamente o valor (figura 9), arrastando-se o arquivo (file.csv) disponível na área de dados à esquerda (1) até ela
O último passo, antes do início das análises, é a configuração da solução. É possível controlar os métodos de interpolação, o tipo de carregamento (PSD ou SweptSine), o tempo de duração da análise (figura 10), e a técnica utilizada na predição da PDF (Probability Density Function) – Lalanne, Dirlik, Narrow Band e Steinberg (figura 10). Os mais comumente utilizados são Dirlik e Lalanne. O campo “Exposure duration” informa o tempo a que a estrutura ou componente estará submetido ao carregamento randômico.
Vale lembrar que as propriedades de material podem ser redefinidas (figura 11). Clique em “Vibration Analysis” > “Edit Material Mapping” (1). Na janela (2) que surge é possível trabalhar as alterações desejadas.
O botão indicado na figura 12 (1) dá início aos cálculos que, concluídos, irão povoar as três janelas (2) abaixo. A primeira das janelas contém a vida resultante do componente devido ao tempo de exposição à aceleração PSD. A segunda contém uma tabela listando os nós mais danificados (pode ser exportada). A terceira contém um pequeno relatório, chamado Studio Display.
Os resultados podem ser visualizados na forma de vida ou dano. Basta um clique na janela FE Display, figura 12 (3), selecionando “properties”. Lá o usuário encontrará ferramentas para ajuste da visualização gráfica (legenda, formato, etc). Desta forma, de uma maneira muito simples e rápida, é possível fazer uma análise de fadiga seguindo uma metologia moderna (domínio da frequência) e que, sob carregamento randômico, é mais econômica, computacionalmente e, por considerar os efeitos dinâmico, dentro do regime elástico, pode ser uma opção mais prática na abordagem de problemas que envolvam interação fluido-estrutura, terremoto, transporte, entre outros. DOWNLOAD
Por Giovanni de Morais Teixeira, ESSS